6.6.15

Nietzsche

Quando lemos Nietzsche, o espetáculo que testemunhamos é o de alguém que se põe a combater, ora triunfante, ora resignado, o surgimento de um mundo que nós, por nossa vez, já encontramos feito, já que nos deu à luz: um mundo em que todo o mundo tem direitos, um mundo em que todo o mundo tem razão, um mundo em que todo o mundo, se não é capaz de aprender, ao menos o é de se informar. O que Nietzsche passa todas aquelas páginas tentando fazer é nos alertar, a nós que o lemos hoje, para o fato de que a minha existência e a sua, tal como elas são, representam um retrocesso, um desperdício de séculos e séculos de história: não foi para a espécie chegar a gente como a gente que no princípio Homero e Sófocles existiram. Algo deu muito errado no caminho. E esse algo foi o cristianismo, grande responsável pela contaminação da Europa com o vírus da dignidade humana, que pôs tudo a perder.